quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Cativeiro

Por achar em todas as coisas mínimas o passo da maior grandeza eu me ferrei...
Querendo ver qualquer merda de qualquer humanidadezinha cultivada num apartamento.
Cercado por coisas que não são minhas mas, coisas que me detêm. Nada além de um prisioneiro.
Se possível encher a cara de ódio e vodca, para passar pelos outros idiotas sem ser notado.
Fedendo a sexo antigo, fedendo a suor de uma maratona que não percorri.
Uma batalha de outrora me faz ainda pensar que estou vivo.
É só nostalgia daquilo que não vivi.
É saudade das coisas que não virei a conhecer, mas que, caso tenha a oportunidade, explodirei sem pestanejar.
Queria voltar a rever aquelas montanhas, a única coisa real da minha vida. Aquela muralha que me aprisionava, também me tornava mais casto, mais puro, menos falso comigo. Porém hoje, quando vou até elas, elas se recusam em vir até mim. Não é uma questão de escolha. É uma questão de irreversibilidade.
Os olhos mudam com o tempo, o corpo muda com o tempo, o tempo muda com o tempo.
O tempo é o grande inquisidor das nossas vidas, e qualquer sentido que não se submeta as suas questões perece inevitavelmente. Burlar-lo é impossível, aceitá-lo ainda menos.
Como se por uma conspiração interna, vi que estou fechado, trancafiado no mundo e não consigo retomar a liberdade que está dentro do eu... eu já não existe... eu já era!
Então o que resta?
Acho que encontrar aquele resto de dignidade que guardei no fundo da gaveta do lado daquele revólver. E então carregá-lo com dignidade e disparar!
Contra mim? Contra alguém? Contra todos?
Não importa! Nunca será contra mim, nunca contra todos. Porém, toda vez que disparar contra mim atingirei alguém que cativei. O que, na verdade, não faz a menor diferença.
Já é tempo de libertar os cativos.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Quem somos?

Preocupado em fazer as coisas;
Esquecido de ser os homens;
Confinado nas paredes cinza;
Acabado pra entender que somos,
Fulgazes vítimas das fomes;
Violentados pelas autoridades;
De quem não tem sonhos,
Pra outorgar vontades;
Viver por caminhos insanos.
Como fazem as pérolas,
Ao devorarem os porcos.
Pois tudo que é valor,
Se dá na aparência criada
Pelo ato de subjetivar.
Quem somos?

Do porque de mover-se...

Do porque de não conseguir mover um dedo
Surge a pergunta, que é na verdade anterior:
Qual dedo deve ser movido?
Da vontade de escapar do corpo dolorido
Vibra a alma toda num temor
Com qual arma morre o corpo já falecido?

Com o tempo que passa numa intensa lentidão
Quebra-se o pensamento que não argumenta
Mas torna-se apenas um zumbido
Que faz doer as vontades não saciadas,
os ventos não sentidos, os frios não aquecidos.

Queima forte a gélida amizade
Constituída com o não, com o niilismo
Que vai fazendo a vida, cadinho por cadinho,
Entornar um ácido no céu da boca.
Para que, a língua ardente,
não faça mais nenhum sentido.

Se, porém, quer mover-se,
Não se mova pensando.
O mundo foi feito pra estar
E nunca pra ser estando.