quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Dança

Para onde quer que fujamos
O viver-se é inevitável
Não há maldições sem ter planos
De ver todo o inefável

Saímos, então, a correr pelo salão
Eretos em heresia com valsa
Bailando a morte, a dor de quem vê o chão
Mas não vê os pés que se movimentam

Perversos são sim os brancos sorrisos
Da gente amarela que dança a música
E não quer fazer-se para além do impreciso
Jogo de pernas de uma valsa singela

Dancemos aqui ou acolá
Porque mais que o ritmo mude
Por mais que os pares se separem
Será sempre a mesma melodia a tocar.

Viagens

Até hoje, todos os dias e os do porvir
Viver é conviver com a impossibilidade dos possíveis
Existir sob a égide da frustração e sorrir
Amar os porões e devanear sonhos inacessíveis

Trazer ao peito a dor de saber
Saber-se dor, ouvir as portas fechar
Tomar-se por elevado, oco ao quadrado
Beijar o seio e se alimentar do vago

Nadamos no onírico, desarranjado fazer
Na vanidade que aborrece cada subsistir
Sorrindo farças às lâminas, ao poder

Mas, se só lágrimas nos vem às faces
O que é pra ser?
Não há viagens que acabem sem disfarces.

Gustav Klimt