sábado, 24 de abril de 2010

Voluptuosos são da terra os teus frutos
Nos quais nascem as vontades,
A avidez, a necessidade, a coragem,
De sugar-lhe os maduros seios,
Apanhar as flores que me dão tua imagem
Caçar-lhe pelos densos bosques
Alimentar-me da tua carne maculada,
num banquete de insaciável voracidade

Experimentar um prazer mais ardido
Como se houvesse nisso a verdade
que busca o homem já perdido,
nos vales e colinas da cidade.
Que de cimento e sangue construídos
Escondem em si a realidade
Do corpo silente, enrubescido
Nesse momento único de felicidade.
Versos verterão lágrimas
Enquanto vidas se desencontrarem
Na solidão das turvas águas
Nos dissabores das corredeiras de ontem.

Sedento e faminto em terras áridas
Segue o poeta cuja pena morreu
No berço em que nascido, desenganou
Às crianças de vontades pálidas.

E no amor, seio da face ávida
Há mais fastio, lívida peste
Essa que já não é a nordeste,
E vem com vida, mostrar-se praga

E não há seca tão solene
Quanto a daquela sorridente lança
Que corajosa, corta o peito,
cava a chaga, desmembra e mente.
Frente ao próprio espelho
Onde todo ódio é semente.