terça-feira, 22 de novembro de 2011

A besta

A besta,
docemente,
se aproxima
do alimento.
E vislumbra,
sorridente,
o que há
de por pra dentro.

Mas,
num frêmito de loucura
a vítima lhe pede,
que poupe sua carne,
que a besta se apiede.

A besta
por instantes
pondera tal pedido,
e vê que sua fome
faz muito mais sentido.

E garante à comida
que não haverá dor,
pois tudo que devora
ela devora com amor.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Cigarros

Acabaram-se os meus cigarros.

Entristeço-me, ao jogar fora, anos de investimento.
Como é que pode se acabar o meu último maço?
Todos os outros que traguei,
em razão deste último,

Vazio.

Com todas as marcas de batom que ficaram estampadas
nos filtros, por onde não passavam nada além de sonhos,
Na fumaça que formava imagens
de um sublime e radiante futuro,

apagado.

Meu cinzeiro improvisado numa caixa de aparelho dentário,
minha mania de bater o cigarro pra prensar o fumo,
minha vontade de um café bem forte
minha ânsia por encontrar,

um prazer.

Fumei os meus cigarros em devaneio,
andei a perder-me entre as brasas
e bailei entre as névoas do meu cachimbo
mas não fiquei satisfeito

ainda tem combustível
no meu isqueiro.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

(Soneto) do Passado

O tempo do que já se foi,
nos lembra do que não será.
Amigos compartilhando dor,
na vivência do desamar.

Reencontrar-se numa paixão,
no telhado a iluminar,
os tetos mofados da razão,
do ser-aí pra não restar

Nada. No pendor o coração,
volitivamente, a se quebrar
nas veredas pedregosas,

em perseguição aos amores.
No pretérito imperfeito,
um futuro que não há.