quarta-feira, 14 de março de 2012

Regressivamente

5 (cinco) comprimidos
Pra passar o medo
4 (quatro) maços de cigarro
pra matar a ansiedade
3 (três) doses de conhaque
Pra adoçar o desespero
2 (duas) carreiras de pó
Pra criar alguma coragem
1 (um) grande baseado
Pra ver que estamos de passagem.

1 (uma) vida estilhaçada
com as sobras de humanidade
2 (dois) anos miseráveis
adormecido sem estar deitado
3 (três) amores dispensados
pois não há qualquer vontade
4 (quatro) cortes bem profundos
pra sentir a nudez e crueldade
5 (cinco) lágrimas minguadas
antes do fim da realidade.

Anda, Vai!

Chupa!
Anda, chupa!
Porque a vida
É seiva bruta
E não permite
Renúncias.

Lambe,
com vontade
pois a vida
é só uma
e o prazer
é a verdade.

Vai,
bem animada
e faça da carne
maculada,
seu infame
desejo.

E depois,
do conclusivo beijo
queime, no desdém
dos olhos
que te possuem,
do homem que
vira as costas,
No primeiro ensejo.
A razão de toda a bebedeira
É a facilidade com que se vislumbra
Idéias assaz altaneiras
Com as quais se planeja
Toda a vida, numa sexta-feira.

A razão de todo porre
É poder morrer quando se escolhe.
E viver pequenas aventuras,
Quando o copo te engole.
Saber furtar-se de todo o juízo
Sabendo-se ninguém.

É anular o que o ego quer,
E dizer com as pulsões
O que se sabe errado.
É aliviar a carga, como(?)
Se o mundo estivesse encharcado.

A razão de qualquer bebedeira
é a paixão por qualquer perda
é função de qualquer merda
numa vida sem sombra e esteira.

Auto (Retrato)

Um homem de estatura mediana.
Nem gordo, nem magro
Pele morena, acinzentada,
Com olhos agudos, de bom traço.
Barba mal feita, desleixada.
De gestos bruscos, mas fino trato,
Pensamentos altos e baixos atos.
Foi feito mínimo por seus fortes laços.

Nasceu nas montanhas,
No mês de março.
E vive nas entranhas,
De um eterno cansaço.

Conhecedor das mulheres,
mas, somente por retratos
Se vicia mansamente,
Obedecendo a um compasso.

Onde a cachaça arde
E a fome cede espaço.
Em uma embriaguez diária,
Vão se apagando os fatos.

Sonhou a vida,
Em meio a um mar de abraços.
Mas acordado,
Percebe que acabaram suas chances.
Vai! Sozinho!
A dar seus passos...

O diabo e eu

Fiz uma casa no inferno
toda revestida de sonhos
com a puerilidade, juvenil,
descontínuas paredes nuas,
tristeza, um amor medonho.

Mas, não, não foi o Diabo,
quem fez ruir a casa do homem
foram, uma após outra pedra
atiradas nos peitos arfantes.
Outros homens mataram os sonhos.

Não foi o Diabo, o sádico
que fez sátira da minha pobreza,
que se riu de minha maior tristeza,
com sua sinistra arcada dentária.
Mostrando-se saciado com o fracasso.

Ele, demoníaco, pitoresco, belo!
Me ofereceu um chá bem singelo,
e disse que, agora, era digno
da sua companhia, e que,
mesmo tendo em mim, a maior
dentre todas as alegrias,
já não poderia voltar atrás.
Pois havia entendido que o mal,
tão adorado e tão temido,
não é o diabo quem faz.

Mas o homem que ao se ver
refletido no amigo, transforma-se
de imediato, em besta voraz.
E arrasa tudo que havia construído,
dando ao conhecimento, a fama por trás.

Deixei ele pra lá, e dei ouvidos,
mais uma vez, às tentativas
que o meu amor me traz,
pois, ele me entende, e sabe bem,
que a minha tolice extrema
é por querer ver no homem,
um ser que destrói, por amar demais.

Um dia, hei de tomar outro chá,
e entabular nova conversação,
quero explicar-lhe, que entendo
o sofrimento que lhe aflige
e que seu amor também não foi em vão.

O Anjo da Luz, do conhecimento,
da razão, gosta do homem,
como gosta um irmão.