domingo, 8 de novembro de 2009

Sulfúrico

A cada dia que passa eu penso menos! É penoso ver como, agora, prostrado, desfaleço diante desse desagradável viver. Cotidiano é tudo aquilo que pesa sobre olhos cansados, falta é presença única em todos os momentos. Tudo se transfigura num desejo pálido, nada sensual, morbidez que leva a vida adiante. Sem mais, nem menos.
Hoje, nem o ópio consola, não há orientes. Horizontes perderam sua felicidade, ganharam verticalidade; poesia já foi feita, hoje tudo é análise. Não se pode mais perguntar os inocentes por quês, é melhor se resignar e comprar um já pronto.
Amar se torna tarefa impossível, tentação sofrida, violência mitigada por todo o aço. Aço que é invólucro de toda subjetividade, protetor de ouvidos contra qualquer palavra afável, do corpo contra todo gesto.
E já que, "num rosto vazio até um arranhão é um enfeite": escondo os arranhões cá dentro, bem fundo, para que não se observe nada nos vazios das minhas farsas ou faces.
Todos os pontos se tornaram incomuns, não há mais retas para ligá-los, acabaram-se. Ganhamos a cada passo uma fluidez sulfúrica, dolorida, e só quem sente é aquele natimorto, sentimental, convulsivo. Aquele que não coincide com sua imagem no espelho e que há muito já foi ultrapassado por sua sombra.

Quantos dias cinzentos a vida me reserva?
O incrível é que, talvez?, sejam todos eles sempre cinza. Afundados em sua objetividade malquista, num mundo de subjetividades idiossincráticas.

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